Estudo encontrou MRSA até em cortinas de leitos que não tinham pacientes com a bactéria
Um pequeno estudo feito no Canadá traz alguma base científica para indicar quando está na hora de lavar ou trocar as cortinas divisórias usadas para dar privacidade aos pacientes (1). Elas são um fator de alto risco para contaminação cruzada porque são constantemente tocadas, não são lavadas ou trocadas com muita frequência e é menos provável que as pessoas façam a higienização das mãos após tocar em objetos.
Para avaliar o grau de contaminação e quanto tempo leva até se tornar um risco, pesquisadores da Universidade de Manitoba estudaram o ciclo de contaminação microbiana das cortinas sintéticas e de algodão usadas no Health Sciences Center, na cidade de Winnipeg, no Canadá.
A amostra usada no estudo foi pequena: dez cortinas que haviam acabado de chegar da lavanderia hospitalar e apresentavam o mínimo de contaminação. Quatro foram colocadas em uma enfermaria com quatro leitos, quatro em um quarto com dois leitos e as duas últimas ficaram em uma sala onde não havia circulação de funcionários do hospital nem de pacientes.
Quase 88% das cortinas penduradas nos quartos em que haviam pacientes testaram positivo para contaminação por MRSA (Staphylococcus aureus resistente à meticilina) 14 dias após terem sido penduradas. Mesmo nos quartos em que não havia pacientes com a bactéria, o microrganismo foi encontrado. As cortinas que ficaram em uma sala isolada não sofreram contaminação. “Os dados sugerem que intervenções para limpar ou trocar cortinas devem acontecer aproximadamente entre 10 e 14 dias após as cortinas terem sido colocadas”, escreveram os autores. O estudo foi publicado no American Journal of Infection Control. No 10º dia após a colocação, uma das oito cortinas estava contaminada. No 14º, já eram cinco de oito cortinas.
A confirmação da contaminação encontrada pelo estudo não é nova nem tão pouco controversa. No ano passado, um outro levantamento feito pelo mesmo grupo de canadenses já havia encontrado MRSA em cortinas de leitos analisadas com seis meses de intervalo (2). A contribuição do novo estudo – que deve ser confirmada, já que a amostragem era pequena – foi mostrar a a evolução da contaminação, o prazo em que ela acontece e, portanto, o tempo máximo em que uma mesma cortina pode ser usada: entre 10 e 14 dias.
No Brasil, não há uma norma específica para a limpeza de cortinas hospitalares. “O que se costuma fazer é dar o mesmo tratamento destinado às superfícies“, afirma a infectologista Glaucia Varkulja. Segundo o Manual de Limpeza e Desinfecção da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, (3), a limpeza de superfícies deve ser feita diariamente e, ao final da internação, de maneira mais completa – quando são limpas também as superfícies verticais, como paredes e, presume-se, cortinas.
Nas áreas de precaução, o manual recomenda duas limpezas diárias, nas trocas de plantão, “principalmente nos locais de maior contato das mãos do paciente e dos profissionais de saúde”. Nas internações de longa duração, a limpeza completa, chamada programada, deve ser realizada a cada 15 dias. “Quando a cortina está visivelmente suja, a limpeza ou até mesmo a troca independente desses prazos e deve ser feita imediatamente”, diz Glaucia.`